No princípio, essas terras eram habitadas pelos nativos indígenas, os autênticos brasileiros, depois se deu a ocupação pelos portugueses, os primeiros imigrantes. O processo de colonização sempre teve a economia mercantilista como o foco principal da conquista desse país-continente. Ele iniciou-se com a exploração do pau-brasil, passando pela exploração da borracha, pela implantação da cultura da cana-de-açúcar, posteriormente a procura do ouro e pedras preciosas das Minas Gerais e, finalmente o plantio do café. Inicialmente, os portugueses tentaram empregar os indígenas. Após o insucesso dessa tentativa, eles foram buscar os negros na África, trazendo-os na condição de escravos para trabalharem em todas essas atividades.
Em meados do século XIX, a cultura do café encontra nas terras paulistas o local ideal para a exuberância do seu florescimento, entretanto, com a falta de mão-de-obra suficiente para atender o crescimento da produção, em especial para exportação, inicia-se uma nova era de ocupação do país. O governo brasileiro passa a incentivar a imigração europeia, destacando-se os povos alemães, belgas, suíços, austríacos, espanhóis, italianos, japoneses e outros. Os imigrantes contribuíram com novos conhecimentos e nova cultura, convivendo com os que aqui já estavam.
No final do século XIX, após a abolição da escravatura, muitos negros continuaram nas fazendas sob outra relação de trabalho e outros migraram para as cidades em busca de novas alternativas. Dessa mistura entre índios, negros e portugueses surgem novas modalidades étnicas, em especial uma denominada “caboclo”, a união do índio e do português. Enquanto a vida nas grandes cidades era mais intensa, em especial as litorâneas e as capitais, no interior as dificuldades eram enormes; os caboclos, espalhados pelo sertão afora geralmente exploravam as terras para cultivo de alimentos para a subsistência. Localizados em áreas de difícil acesso, de matas e animais selvagens, isolados ou em comunidades rurais, eles viviam de modo rústico e distantes da civilização. De maneira geral, os moradores se agrupavam em bairros rurais. Com o passar do tempo, um ou outro se desenvolvia e se transformava em cidade.
Com o fortalecimento das culturas da cana-de-açúcar e do café em São Paulo, surge a elite agrária do interior paulista, os senhores de engenho e os barões do café. Fazendas e mais fazendas são instaladas no interior afora; colônias são construídas para abrigar os trabalhadores caboclos, principalmente os migrantes mineiros e nordestinos, assim como os imigrantes, para trabalharem nas lavouras. Os acessos às fazendas eram precários e, muitas vezes inacessíveis, dificultando o escoamento dos produtos agrícolas. A partir da década de 1870, as elites agrárias, que também ocupavam os principais postos do governo, começam a implantar as primeiras companhias ferroviárias que atenderiam a região de Campinas e, posteriormente o interior paulista em busca de suas riquezas agrícolas, são elas a Cia. Paulista, a Mogiana, a Sorocabana e a Ituana.
O GRANDE MOTOR DO DESENVOLVIMENTO E AS NOVAS CIDADES
Um ramal ferroviário torna-se de grande interesse para os nossos estudos. Começou como um trecho da Companhia Carril Agrícola Funilense (1870 a 1899), posteriormente denominado Ramal Férreo Campineiro (1899 a 1905), mudando novamente sua denominação para Estrada de Ferro Funilense (1905 a 1924), subordinada ao governo do estado, e, a partir dessa data incorporada pela Estrada de Ferro Sorocabana. A Funilense, com pouco menos de 100 km de extensão, construída inicialmente até a Usina Ester (Cosmópolis), partindo do centro de Campinas, visava transportar principalmente o açúcar e o café para Santos com destino ao exterior. Desse trecho surgiram o Distrito de Barão Geraldo, Paulínia e Cosmópolis. Com a grande valorização do café e a necessidade da abertura de novas fronteiras agrícolas para o seu cultivo, inicia-se a expansão do ramal ferroviário, até chegar às barrancas do Rio Mogi Guaçú. Dessa nova linha surgem as vilas e cidades de Artur Nogueira, Engenheiro Coelho, Tujuguaba, Conchal e Pádua Sales. Ela foi desativada em 1960 e desapareceu com a retirada de seus trilhos em 1962.
A partir de 1850, com a proibição internacional do tráfico de africanos, os fazendeiros de Campinas, Limeira e região sofrendo com a escassez e com a elevação do preço do escravo no mercado, procuraram desenvolver suas atividades produtivas através de moradores naturais da região e também com migrantes nordestinos. Eles não tiveram muito sucesso devido ao pouco interesse dessas comunidades em trabalhar nas lavouras; assim alguns iniciaram as primeiras tentativas de introdução do trabalho imigrante nas lavouras de café. Essa primeira tentativa não foi muito bem sucedida, tendo em vista que os estrangeiros não concordaram com o sistema de remuneração praticado. Muitos abandonaram as fazendas, alguns se tornaram meeiros com os proprietários das terras, outros compraram pequenas glebas de terra para trabalhar ou se deslocaram para as cidades em busca de novos afazeres.
Diante desse sistema pouco auspicioso empreendido pelos fazendeiros, e para garantir o crescimento e desenvolvimento da cultura cafeeira do Estado de São Paulo, o Governo Federal e o Estadual buscaram promover a imigração oficial de grandes levas de europeus para nossa região. A diferença desse modelo é que os órgãos governamentais responsáveis não instalaram os imigrantes nas colônias das fazendas. Eles criaram núcleos coloniais, derivados da aquisição de grandes propriedades no interior paulista, dividindo as terras em glebas de aproximadamente 10 alqueires cada. Esses lotes eram cedidos aos imigrantes para que ali se instalassem e promovessem a exploração agrícola de modo a suprir as necessidades de alimentos às suas famílias, comercializar os produtos excedentes nas cidades e, principalmente para a cultura extensiva do café. Não se conseguiu a ocupação total dos núcleos com os imigrantes, então muitos lotes também foram cedidos aos moradores locais. No centro desses estabelecimentos coloniais ou em áreas adjacentes, implantaram-se os núcleos urbanos das primeiras vilas, destacando-se em muitos casos a Estação Ferroviária, a partir da qual se formaram algumas dessas povoações. Ao longo desse ramal ferroviário surgem as cidades de Cosmópolis (Núcleo Campos Salles) e Conchal, através dos núcleos Visconde de Indaiatuba, Conde de Parnahyba, Leme e Ferraz. Artur Nogueira, Engenheiro Coelho e Tujuguaba foram constituídas a partir de loteamentos particulares, não muito distantes desses empreendimentos coloniais.
OS PRIMEIROS MORADORES
Por volta de meados do século XIX, a região onde hoje se encontra Engenheiro Coelho era uma vasta extensão de serrado tradicional do interior do país. A exploração das terras se dava pela cultura insipiente da cana-de-açúcar para a produção de açúcar, álcool e aguardente, cultivo de alimentos para subsistência como o milho, mandioca, arroz, feijão, criação de animais como bois, aves e porcos, extração de madeira para construções e obtenção de lenha visando abastecer as fábricas da região de Mogi Mirim e Campinas e para movimentar as caldeiras dos trens que, a partir da década de 1870 começaram a circular na região.
Nos livros de matrículas da Escola de Mogi Mirim, datados entre os anos de 1878 até 1882, foram encontrados nomes de famílias que têm ligação com Engenheiro Coelho. Um dos mais expressivos é o de José Alves Cavalheiro Júnior, filho de José Alves Cavalheiro que também aparece nos registros da Secretaria de Agricultura (Inspetoria Geral de Terras e Colonização), como colono do Núcleo Campos Salles (cidade de Cosmópolis), por volta de 1898 e 1899. Esse dado pode ser alusivo à família do destacado Antonio Alves Cavalheiro que foi Chefe da Estação da Guaiquica (uma das primitivas denominações da região onde surgiu o povoado que, futuramente se transformaria na cidade de Engenheiro Coelho). Esse cidadão também foi o responsável pelo funcionamento da primeira sala de aula e professor da Escola Mista Rural da citada povoação Em 1960, ele foi escolhido como patrono de uma das mais destacadas instituições de ensino de Engenheiro Coelho que, atualmente denomina-se “Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau “Antonio Alves Cavalheiro”. Também constam desses livros muitos sobrenomes comuns às primeiras famílias que estiveram presentes na formação da povoação. Entre essas destacamos: Camargo, Carvalho, Ferreira, Franco, Leme, Miranda e Morais, todos tidos como naturais de Mogi Mirim. Outros nomes também foram identificados como antigos moradores da região, tais como os Cardoso, Castelar, Ferraz, Ferreira, Oliveira, Olivério, etc.
De acordo com os relatos orais feitos pelos mais antigos moradores da cidade, a ocupação da região ocorreu pelas famílias de imigrantes portugueses e “caboclos” que, ao longo do tempo se casaram entre si e com os índios locais, chamados de bugres, constituindo assim novas famílias. Destacam-se entre as mais antigas os nomes de Joaquim e Júlio Cardoso de Moraes, Alfredo e Lázaro Francisco Guimarães, Alfredo e seu irmão Elói Nabarrete, Antonio e seu filho Lázaro Franco de Oliveira, Amaro Franco de Oliveira e João Egídio Milares.
OS NOVOS IMIGRANTES
Em 1887, instalaram-se na região os imigrantes alemães, belgas, suíços, suecos, húngaros, austríacos, poloneses, e outros. Os moradores mais antigos citam que as famílias Hereman, Haeck e Firz foram as precursoras, posteriormente chegaram os Krebsky, Hornhardt, Nimptz e Müller.
Conforme relato enviado por Robert Hereman, neto de Theofile Hereman ao nosso amigo Evandro Francischetti, Joannes Franciscus Hereman (Jan Frans) nasceu em 17 de outubro de 1838, em Aalst, um município belga situado às margens do rio Dender, na província Flamenga da Flandres Oriental, a 24 Km a noroeste de Bruxelas. Por volta de 1860, ele mudou-se para Eksaarde. Ele casou-se com Anna Catarina Megroet e, posteriomente com Matthilde de Mol, sendo que desses dois casamentos nasceram 23 filhos.
Em 1887, descontente com as exigências do líder religioso local, ele decidiu emigrar ao Brasil com todos os seus filhos (exceto uma filha chamada Mina). Um deles faleceu durante a viagem, assim Jan Frans chegou a Santos, com sua esposa e 21 filhos. Conforme relatos de familiares, a sua fortuna, que se resumia em algumas peças de ouro, foi roubada no Porto de Santos, consequentemente ele chegou em terras brasileiras sem recursos. Por coincidência, uma menina chamada Emma van de Velde, natural de Moerbeke, que viajou no mesmo barco, se tornou, no futuro, a esposa de seu filho Theophile (Teófilo) Hereman, irmão de Petrus (Pedro). Completamente arruinado, Jan Frans foi ao Consulado da Bélgica e pediu ajuda. O Cônsul da Bélgica deu-lhes algum dinheiro e, de alguma maneira ainda não conhecida, o governo brasileiro concedeu-lhes um pedaço de terra virgem. Se os Heremans, após cinco anos, conseguissem fazer a terra produzir, essa área passaria a pertencer-lhes. Foi assim que a história começou. A floresta foi desbravada e as plantas cultivadas. Após o prazo estipulado, a sua primeira safra de café foi inteiramente destruída pela geada. Depois desse evento, tudo correu às mil maravilhas e a sua cultura foi se desenvolvendo, ano após ano. No início da década de 1900, Joannes, sua esposa e alguns filhos voltaram definitivamente para a Bélgica. Parte de sua prole permaneceu no Brasil. Sabemos que Petrus (Pedro) e Theophile (Teófilo) continuaram a exploração das terras. Joannes faleceu em 13 de outubro de 1908.
Conforme os relatos de Dna. Irene M. Hereman de Oliveira (03/01/1983), apresentados por Adauto Hereman, tomamos conhecimento do seguinte:
Jan Frans e sua família desembarcaram em 1891, viajaram no lombo de burros até Limeira. Eles se instalaram na comunmente chamada Fazenda dos Felipes, dedicando-se ao cultivo do café. Em 1901, os Heremans compraram uma área de terra na “Guaiquica” (nome da região que deu origem à denominação da fazenda adquirida pela família) . Eles desbravaram as matas (300 alqueires) para o cultivo do café, construíram as primeiras casas, as instalações da fazenda e as moradias dos colonos, tudo em madeira. Após essa empreitada, Jan Frans e Mathilde retornaram à Bélgica, levando suas filhas Celeste, Vana e Clotilde. Os outros filhos ficaram no Brasil. Com o falecimento de Jan Frans (1908) e Mathilde procedeu-se a partilha dos bens. Pedro Hereman, casado com Henriette Krebsky (Henriqueta Krebsky) e Theophile Hereman (Teófilo) e sua esposa Emma van de Velde passam a comandar a fazenda. Não nos aprofundamos na genealogia dos Heremans. Limitamo-nos a publicar alguns registros, exatamente como os recebemos da Bélgica, através de Evandro Francischetti. Nesses documentos constam os nomes de alguns dos filhos do patriarca Joannes Franciscus Hereman (Jan Frans), assim como registros das famílias de Pedro e de Teófilo Hereman. Em 1914, Teófilo viajou à Bélgica com sua família para passar um período de férias e foi impedido de retornar ao Brasil devido a eclosão da 1ª. Guerra Mundial. Após o conflito, ele montou a sua própria empresa de torrefação de café em Eksaarde sob o nome de Estrella Brazileira (posteriormente simplificado para Estrella).
Pedro ficou com a Fazenda Guaiquica (posteriormente chamada de São Pedro), onde produzia e exportava o café para a sua terra natal. Victor voltou à Bélgica, onde se casou com Irma Bawens. Em 1914, eles retornaram à Fazenda Guaiquica, constituíram um armazém com dois barracões (depósitos) para estoque em uma das colônias da propriedade, local onde também funcionava a primeira sala de aula. Foi nessa área que, em 02/09/1912 foi inaugurada a Estação Ferroviária da Guaiquica.
Os outros irmãos de Pedro, Teófilo e Victor tomaram outros rumos, Heliodor comprou um sítio em Cosmópolis, Leão adquiriu uma outra propriedade na região e Ernesto retornou à Bélgica.
De acordo com relatos de antigos moradores, por volta de 1910, a Fazenda Guaiquica já contava com aproximadamente 420 alqueires. Seu dinâmico proprietário imprimiu toda a força existente para desenvolvê-la e, a cada ano que se passava mais se produzia e se construía. Pedro Hereman foi implementando equipamentos necessários à sua manutenção e desenvolvimento. Foram instalados moinho de fubá, máquinas de beneficiar arroz e café, fábrica de farinha de mandioca, barracão de beneficiamento da laranja, serraria, olaria, oficina, armazém, escola e silos para o armazenamento dos produtos agrícolas. As cinco colônias da fazenda eram conhecidas por Colônia da Sede, Colônia da Olaria, Colônia do Meio, Colônia da Fábrica de Farinha e a Colônia da Guaiquica, onde existiam a oficina de ferramentas agrícolas, três residências em seu entorno, o armazém, os barracões que serviam para depósito, além da primeira farmácia e a primeira sala de aula da escola da fazenda, com uma casa ao seu lado. Essa colônia foi a célula–mater à formação do atual núcleo urbano, denominado Engenheiro Coelho.
A fazenda passou por um período de desenvolvimento fabuloso, tendo como base em sua economia de produção a cultura do café, produto exportado para a Bélgica, onde a família Hereman possuía uma torrefação que comercializava o café brasileiro (Estrella Brazileira). Os Heremans venderam a empresa em 1980. Além do café, eles produziam laranja, que também era exportada para a Bélgica, Inglaterra e Holanda. A Guaiquica também produzia algodão, mandioca, cereais, e abrigava grande criação de porcos que eram motivo de atração a outras fazendas e cidades.
Pedro Hereman conseguiu a alteração do traçado da ferrovia (ramal da Funilense /Sorocabana), de maneira que ela passasse pelo interior da fazenda, de forma que todas as colônias ficassem em sua proximidade. Em 1912, foi construída a estação da estrada de ferro na Colônia Guaiquica, que passou a ser conhecida pelo mesmo nome da colônia e, a partir de 27 de agosto de 1923 denominou-se “Engenheiro Coelho” em homenagem ao Dr. Afonso Constante Coelho que, durante muitos anos, exerceu o cargo de fiscal da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. (Figura pg. 32). (denominação ostentada anteriormente pela estação ferroviária de Conchal).
Conforme relatos, Pedro Hereman foi um excelente administrador e incentivador da educação. Ele construiu e viabilizou a operacionalização de uma sala de aula, vinculada ao Município de Mogi Mirim, denominada Escola Rural da Guaiquica, administrada pela Secretaria Estadual de Educação. Ele era amante da música e para incentivar seus empregados, contratou um professor de Campinas para ministrar-lhes aulas dessa arte, obrigando-os a frequentá-las assiduamente, sob pena de ser descontada uma parcela de seus ordenados caso não se interessassem pela disciplina. Além desse professor, outros contratados para lecionar na escola da colônia eram hospedados na sede da fazenda. Alguns moradores antigos citam um fato pitoresco sobre o proprietário da Fazenda Guaiquica (São Pedro). Por ocasião de suas viagens de negócios à Europa, ele exigia que a banda musical, mantida às suas custas, promovesse retretas, em sua partida no Porto de Santos e na Estação Ferroviária da Guaiquica, no momento que retornava à fazenda.
Conforme texto enviado pelos Heremans que estão na Bélgica, em 1928, Frans (filho de Theóphilo), Olga e a filha do meio Jacqueline voltaram ao Brasil, onde permaneceram por 6 meses na tentativa de impedir a divisão das terras da fazenda. Frans ficou até 1940. Ele retornou a Eksaarde devido ao bloqueio das remessas de café do Brasil para a Europa. Com o falecimento de seu pai, em 1946, ele assumiu a torrefação (Estrella).
Não se tem conhecimento da data precisa do retorno de Pedro Hereman para a sua terra natal, sabe-se, porém que seu filho Christian (Cristiano) e sua irmã Helena Hereman, casada com Antonio Alves Cavalheiro ficaram no Brasil administrando a fazenda. Pedro Hereman faleceu em 23 de julho de 1932.
Conforme relatos, após seu casamento (1915) com Helena Hereman (filha de Pedro), Antonio Alves Cavalheiro passou a administrar os negócios da fazenda. Dessa união nasceram os filhos: Nelson Alves Cavalheiro, Moacyr Alves Cavalheiro, Celina Alves Cavalheiro e Pedro Alves Cavalheiro. Cristiano Hereman, sócio e cunhado, cuidava da produção. Antes da constituição dessa sociedade, Antonio Alves Cavalheiro já se destacava como um grande batalhador pelas causas da região. Ele foi “bombeiro” dos trabalhadores da construção da estrada de ferro, cozinheiro da empresa e também foi nomeado como telegrafista da companhia ferroviária. Posteriormente, passou a sub-chefe da Estação de Pádua Salles, município de Conchal, até que assumiu a chefia da Estação da Guaiquica.
Conforme os depoimentos de antigos moradores, no início da década de 1920, Ítalo Francischetti e seus filhos abriram uma carpintaria em uma oficina alugada da Fazenda Guaiquica (São Pedro). Ali se produzia arados, implementos agrícolas e ferramentas de corte. Esses produtos eram distribuídos por diversas regiões do Estado de São Paulo, especialmente para Ourinhos. Os Francischettis foram progredindo, seus filhos se casaram e se fixaram nas casas da colônia, que eles adquiriram no futuro.
Por volta de 1930, Antonio Alves Cavalheiro empreendeu as construções da segunda sala de aula do Grupo Escolar e da Capela São Pedro, inaugurada em 29 de junho de 1936. Para essa última empreitada ele contou com a ajuda da comunidade. O genro de Pedro Hereman foi um incentivador da educação. Além de lecionar na escola da Guaiquica, seguindo o exemplo de seu sogro, Cavalheiro e sua esposa Helena se encarregavam de hospedar os outros professores contratados. Depois de muita luta, em 1937 ele conseguiu a implantação da energia elétrica na propriedade, benfeitoria que não pode usufruir, devido ao seu falecimento, em 21 de fevereiro de 1936. Até então, Engenheiro Coelho não passava de uma das colônias da Fazenda Guaiquica (São Pedro), sem nenhuma perspectiva de desenvolvimento. A partir de 1936, com a construção da estrada de Rodagem de Limeira a Mogi Mirim, que passava ao lado da colônia, e da Estrada de Rodagem de Engenheiro Coelho a Artur Nogueira, ligando-se com Cosmópolis (1937) esse quadro modificou-se. No cruzamento dessas rodovias e ferrovias foi construído um grupo de edificações por Amin José Flaifel. Em uma delas abriu uma casa de comércio com residência nos fundos, funcionando nas outras edificações o gabinete dentário do Dr. Lázaro da Silva (Lazinho) e a barbearia do Jacinto Leme. Além dessas construções havia o bar do Joaquim Olivério, às margens da estrada de Rodagem de Engenheiro Coelho a Artur Nogueira.
Antigos moradores lembram-se do Guaiquica Futebol Clube, dirigido por Rached José Flaifel, extinto por volta de 1937. Nessa época, foi criado o Paulista Futebol Clube, cujo campo ficava ao lado da estrada de rodagem, onde permaneceu até o início da década de 40. Aproximadamente em 1937/38, Amin José Flaifel e Adolfo Nimptz puxaram a primeira linha de energia elétrica rural.
Após o falecimento de Antonio Alves Cavalheiro, seus filhos assumiram a administração dos negócios em sociedade com Cristiano Hereman. No início da década de 1940, a empresa Cavalheiro & Hereman empreendeu o primeiro loteamento na Colônia da Guaiquica, delimitada pela estrada de rodagem de Limeira a Mogi Mirim ao norte, a leste pela ferrovia com destino a Artur Nogueira, ao sul com a gleba de terra onde estava instalada a oficina dos Francischettis e suas residências e a oeste traçou-se uma linha demarcatória no sentido norte-sul, fechando assim os limites do loteamento desenhado pelo agrimensor Karl Glaser. Foi esse empreendimento que determinou o início da povoação que, no futuro, se constituiria a cidade de Engenheiro Coelho. Após essa iniciativa, a localidade passou a apresentar um movimento desenvolvimentista. A partir daí, foram construídas diversas residências, bares, armazéns, farmácias, posto de gasolina, máquina de beneficiar arroz, padaria, açougue e os serviços de correio e telégrafo instalado com a ferrovia. Ainda na década de 40, ocorreu a formação do “Terra Preta Futebol Clube” (1942) que, a partir de 1946 recebeu o nome de “Associação Esportiva São Pedro”. Essa agremiação foi registrada na Federação Paulista de Futebol e continua em atividade.
Em 1944, os Cavalheiros e Cristiano Hereman venderam a Fazenda Guaiquica para os senhores Sérgio Alves e Augusto Mirandola. No ano seguinte, mais precisamente no dia 14 de novembro de 1945, conforme escritura lavrada no Segundo Tabelionato da Comarca de Limeira (livro 103, folha 14), parte da Fazenda Guaiquica (168 alqueires restantes, após divisão ocorrida no início do século) foi comprada pela Família Forner, mais precisamente por Pedro, Angelo, Francisco, José, João, Vitalino, suas respectivas esposas, Maria Pezzatto, Rosa Marrafon, Maria Marrafon, Rosa Bonin, Elvira Martinato e Irene Pessatti, além do menor Geraldo Forner. Essa área englobava a sede da fazenda, as benfeitorias e as culturas principais, consistindo em vinte e oito casas simples, oito duplas para alojar colonos, todas de tijolos e telhas, três moradias para a administração, incluindo a sede do imóvel, uma fábrica de farinha de mandioca composta de um lavador/descascador, um ralo, uma prensa hidráulica, dois fornos fixos, um motor elétrico de 5 HP, uma máquina de beneficiar café, uma máquina de beneficiar arroz, dois moinhos de fubá, serraria com todos os pertences, um motor de 18 HP, dois transformadores (de 25 e 30 HP), cinquenta mil cafeeiros, sete mil laranjeiras, vinte mil eucaliptos e vinte alqueires de mata. A propriedade adquirida pela família Forner englobava a sede da fazenda e o entorno do loteamento existente, exceto a parte norte, de propriedade de Antonio Mingote, que havia sido permutada anteriormente com os Cavalheiros. O restante da Fazenda Guaiquica foi aos poucos sendo adquirida pelos moradores da região, tais como Luiz Fávero, os Teressanis, João Berton, , sendo que Fávero mudou-se para o núcleo urbano em 1945. Fávero deu continuidade aos negócios do armazém que, anteriormente era administrado pela Família Hereman. Ainda no ano de 1945, foi instalada a energia elétrica na rua principal do loteamento e a iluminação pública em 1947/48.
Ainda na década de 1940, o Sr. Alfredo Francisco Guimarães, conhecido como Alfredo Peixoto adquiriu alguns lotes dos Cavalheiros nos quais construiu cinco casas, num prazo de seis meses. Nessa época, ocorreu uma significativa movimentação na vida urbana de Engenheiro Coelho, através da intensificação das atividades comerciais e de serviços.
De acordo com as informações prestadas por Claudete Aparecida Soares, no ano de 1947 foi inaugurado o campo da aviação, objetivando a diversão da população, principalmente do seu pai, o Sr. Lázaro Silva (Lazinho) dentista que prestava serviços à comunidade e era proprietário de um avião. Ele mantinha um relacionamento amistoso com alguns acrobatas de renome como o famoso Bertelli e Ada Rogatto que, assim como a Esquadrilha da Fumaça, faziam apresentações na região.
A partir de 1950 o crescimento da povoação se deu em ritmo lento, sendo que o grande destaque foi o loteamento implantado em 1954 pelo Sr. Pedro Forner. Em 1956 foi construído o templo da Igreja Evangélica Assembléia de Deus. No início da década de 1960, ocorreu a inauguração da Escola Estadual Antonio Alves Cavalheiro e foram iniciadas as obras para construção da Igreja São Pedro. Em 1963, na gestão do prefeito Jacob Stein, foi inaugurado o centro telefônico com aproximadamente 25 terminais. Em 1968, na gestão do prefeito Luiz Spadaro Cropanize foi aberto o poço artesiano, ação que veio amenizar o problema da falta de água que assolava o município. Também foram disponibilizados alguns pontos de abastecimento nas principais esquinas do núcleo urbano. Na segunda gestão de Jacob Stein (1969/72), instalaram pontos de água em todas as casas e a rede de esgoto na avenida principal, denominada Pedro Hereman e nas travessas, abrangendo os lotes servidos pela referida avenida que, posteriormente foi asfaltada.
A partir de 1977, com a eleição do prefeito Rubens da Silva Barros Engenheiro Coelho passou a receber maior atenção do Executivo Municipal. Nesse período, ocorreu a eletrificação e iluminação, com a substituição das lâmpadas incandescentes por luminárias à base de mercúrio, foi construído o trevo de acesso ao núcleo urbano, empreendida a pavimentação de ruas com guias e sarjetas, a construção da Estação de Tratamento de Água e a prospecção de mais um poço artesiano. Também foi construído o emissário de esgoto, providenciada a implantação da telefonia automática (sistema DDD e DDI) e do Posto Policial, instalado o Posto de Saúde, assim como foi estimulada a abertura de uma agência do Banco Brasileiro de Desconto (Bradesco) e do serviço bancário da Caixa Econômica Estadual. Ainda nessa época, foi concedida a permissão para que fossem implantados loteamentos e destinados veículos para prestação de serviços municipais. O ponto alto dessa administração deu-se em maio de 1980, quando a Vila de Engenheiro Coelho foi elevada à categoria de Distrito de Artur Nogueira, conforme a lei estadual nº 2343, assinada pelo então governador Paulo Salim Maluf. A partir dessa data, o prefeito municipal designou o Sr. João Fávero para ser o primeiro sub-prefeito do distrito. No ano seguinte, foi empreendida a instalação da sub-prefeitura. Nas gestões do prefeito Cláudio Alves de Menezes (Artur Nogueira) e de Mariano Aparecido Franco de Oliveira (sub prefeito), o Distrito de Engenheiro Coelho passou por um período de estagnação. Foram realizados somente serviços de manutenção, abastecimento de água, coleta de lixo e varredura das ruas. A partir dessa época, os moradores do distrito começaram a demonstrar o seu anseio de uma libertação político-administrativa. Depois de uma luta empreendida principalmente pelos cidadãos Edison e Ademir Fávero, em 3 de outubro de 1991 a cidade elege seus primeiros vereadores e o primeiro prefeito municipal. A partir de 1 de janeiro de 1992 a cidade passa a ter administração própria com a posse dos primeiros vereadores e do prefeito Mariano Aparecido Fraco de Oliveira. Hoje, a economia do município está baseada na agricultura, destacando-se a produção de laranja, de cana-de-açúcar, tomate, mandioca, hortaliças, etc. A cidade também abriga indústrias de grande e médio porte. Entre elas destacamos a Louis Dreyfus, que industrializa suco de laranja concentrado para exportação, a TRW e a Fortec, que produzem componentes e discos de freios para a indústria automotiva. A composição do setor de serviços é diversificada, com a maior participação a cargo das atividades imobiliárias e serviços prestados às empresas, assim como o comércio está em franco desenvolvimento. Creches e escolas compõem o quadro educacional, junto com o campus da UNASP (Centro Universitário Adventista de São Paulo).
Mantendo as características de cidade pequena e administrando ordenadamente seu crescimento, Engenheiro Coelho tem se destacado entre as cidades da região, sendo considerada um ótimo lugar para se viver. Trata-se de um município consideravelmente rico e que ostenta bons níveis nos indicadores sociais, segundo o IPRS – Índice Paulista de Responsabilidade Social (Seade, 2004). Localiza-se a uma latitude 22º29’18” sul e a uma longitude 47º12’54” oeste, estando a uma altitude de 655 metros.
Texto extraído do Livro:
“Retratos de Engenheiro Coelho” – Edison Fávero/José Eduardo Heflinger Jr.